Madeira esperança
Hoje, este blog está profundamente solidário com o povo da Madeira.
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Hoje, este blog está profundamente solidário com o povo da Madeira.
A tragédia que o Haiti está a viver toca-nos muito. Tenho, na minha Missão, vários funcionários de nacionalidade haitiana. Estão como que paralisados, o choque foi demasiado grande. A nossa equipa de aconselhamento psicológico, um pequeno conjunto de especialistas que está muito habituado a lidar com traumas violentos, em zonas de conflito, tem estado em contacto com os colegas que ficaram mais fragilizados.
O chefe da Missão da ONU no Haiti, Hédi Annabi, um velho colega meu, e o seu adjunto, o Luís da Costa, outro conhecido de muitos anos, continuam desaparecidos. Estavam, mais o Comandante da Força Militar da ONU, o Comissário da Polícia (UNPOL) e outros colegas seniores, numa reunião com uma delegação chinesa. Receia-se que tenham, todos, perdido a vida.
O destino é o que é. O General Gerardo Chaumont, um homem bom, argentino e com muita experiência em matéria de segurança, antigo comandante-geral adjunto da Gendarmeria Argentina, trabalhou um ano e meio comigo no Chade. Em finais de Dezembro, resolveu aceitar a sua transferência para a Missão no Haiti. Por ser mais perto de Buenos Aires. Queriam que fosse directamente de N'Djaména para Port-au-Prince. Se tivesse acedido, teria morrido ontem. Mas, não. Disse que só começaria as suas novas funções em Fevereiro. Quando o fizer, encontrará um Haiti destruído e à deriva.
Estes são tempos que nos interpelam.
Passei a noite em Bangui. Desta vez, foi ao contário da última passagem: houve água, mas não consegui ligação sem fios.
O que é mais necessário?
Foto copyright V.Ângelo
Hoje tivemos mais uma emboscada contra uma coluna do Programa Alimentar Mundial e do UNHCR, o Alto Comissariado para os Refugiados. No sector centro. A zona mais perigosa. Homens como este, que a MINURCAT está a treinar, defenderam a coluna com valor e coragem.
Entretanto, um grupelho obscuro, que até pode não existir, e ser apenas a voz de um funcionário de uma das muitas agências de segurança do estado sudanês, fez ameaças públicas contra os humanitários que ainda se encontram em parte incerta, como reféns. Foi um discurso contra a França.
Este tipo de manifestações, através dos media, é muitas vezes feito por gente que nada tem que ver com o caso, mas que tenta aproveitar a onda. Em certos casos, a autoria pertence a um qualquer serviço secreto, que se aproveita da situação para mandar um par de mensagens políticas.
Quando há raptos em zonas de conflito, aparecem sempre muitos pescadores de águas turvas.
Mas, nunca se sabe. Tudo tem que ser visto com muito cuidado.
Voltámos a ter uma emboscada, na estrada entre Abéché e Guéréda, no Leste do Chade. Este Sábado, pela manhã, homens com armas de guerra atacaram uma coluna de humanitários. Perto do campo de refugiados de Kounoungou, um sítio que alberga 19 mil pessoas que fugiram do Darfur.
O delegado do Governo, que sempre lutou ao lado das organizações humanitárias, ia na viatura da frente. Perdeu a vida. O corpo chegou ao fim do dia a N'Djaména, num voo especial do PAM, o Programa Alimentar Mundial.
Ontem à noite estive em contacto com a Delegada para o Chade do Comité Internacional da Cruz Vermelha. Discutimos a escalada da violência contra as organizações que operam na zona de fronteira, no Darfur e no Chade. A Cruz Vermelha não aceita escoltas de polícia ou militares. Mas face ao banditismo violento que agora se vive, que remédio...
Nas duas próximas semanas, a violência dos gangs criminosos e as relações entre o Chade e o Sudão vão ocupar todo o meu tempo.
Não vai haver muito espaço livre. Tenho a certeza que ninguém tem inveja de uma vida assim.
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