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Vistas largas

Crescemos quando abrimos horizontes

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O TTIP: que opções?

 

 

            TTIP sem espinhas

            Victor Ângelo

 

 

 

            No final da sua recente visita à Europa, o Presidente Obama fez um apelo para que o pacto comercial entre o seu país e a UE seja concluído sem mais demoras. As negociações, que deverão levar a uma Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento, conhecida pelas iniciais inglesas como TTIP, começaram em julho de 2013. Desde então, tiveram lugar treze rondas de discussões, o que é revelador do enorme fosso de divergências e dos profundos conflitos de interesses entre as duas maiores áreas económicas do mundo. Juntos, a UE e os EUA representam 60% do PIB global, 33% das trocas de mercadorias e 42% do comércio mundial de serviços. Como as taxas alfandegárias entre UE e EUA já são relativamente baixas, o cerne das discussões tem-se focalizado na eliminação de entraves burocráticos às importações, bem como na harmonização de legislação, padrões, exigências e normas entre os dois lados. Procuram igualmente definir os mecanismos arbitrais para a resolução de conflitos, sobretudo entre os investidores e os estados.

            A Comissão Europeia quer que se olhe para a Parceria pela positiva. Ou seja, como uma oportunidade significativa para estimular o crescimento económico e o emprego, e para baixar os custos de um grande número de bens de consumo. É uma perspetiva aceitável. Mas a verdade é que para além de Obama e de Merkel, nenhum outro dirigente europeu aparece distintamente em defesa do acordo. E agora, com a campanha que a Greenpeace lançou contra o TTIP, ao revelar os documentos que parecem definir as posições das partes, vai ser ainda mais difícil ouvir políticos europeus a defender o projeto de tratado. Na comunicação social, aposta-se nos comentários simplórios, exaltados e preguiçosos. Quanto à opinião pública europeia, essa está numa onda de oposição a tudo o que possa ser visto como um novo passo no caminho para a globalização económica. Mais ainda, deixou de acreditar nas boas intenções dos líderes políticos tradicionais. Nutre, igualmente, um bom nível de antagonismo perante as empresas multinacionais, e em especial, as americanas. De tal modo, digo eu, que se se tentasse aprovar hoje o tratado do Atlântico Norte ou mesmo os textos que levaram à criação das instituições de Bretton Woods – o Banco Mundial e o FMI – não se conseguiria ultrapassar a barreira da rejeição popular. Nada de novo seria aceite. No caso concreto do TTIP, mesmo na Alemanha, que ganharia bastante, caso houvesse entendimento, as opiniões favoráveis baixaram de 55%, em 2014, para 16%, agora.               

            Do outro lado do Atlântico, encontramos níveis de resistência semelhantes. Apenas 15% dos americanos afirmam apoiar o acordo. A campanha de Donald Trump deve uma boa parte do seu desmiolado sucesso a tomadas de posição explícitas contra este tipo de acordos de comércio livre. E mesmo no campo democrata não há grande entusiasmo pelo tema e nem o eco de um tímido murmúrio a favor se consegue ouvir.  

            Não me parece contudo que o processo esteja morto e enterrado, como por aí se diz. Mas que está condenado a um longo período em banho-maria, isso sim. Também creio que terá que diminuir substancialmente o seu nível de ambição e concentrar-se, numa primeira fase, nos bens e serviços menos controversos, naquilo que é mais fácil de aceitar. Na realidade, poderia ser concluído em redor dos produtos sobre os quais já se chegou a uma posição comum, quanto à abolição ou redução significativa das taxas alfandegárias. Trata-se de 97% dos produtos. Incluiria ainda outras matérias já aceites pelas partes, relacionadas com os procedimentos aduaneiros, a inspeção única para os artigos farmacêuticos e os padrões relativos às indústrias químicas e de maquinaria. Ficariam de fora as questões hoje inaceitáveis, tais como a exploração do petróleo de xisto, os bens alimentares que não coubessem nas regras europeias que proíbem a utilização de hormonas na nutrição animal, os geneticamente modificados, ou ainda a fruta com resíduos de pesticidas. Também seria excluída qualquer cláusula que pusesse em causa as regiões demarcadas europeias, como por exemplo a do Champagne, do Douro e do vinho do Porto ou ainda a do presunto de Parma.

            Um acordo mais modesto é melhor do que nenhum acordo. E de facto a alternativa é não haver qualquer tipo de entendimento. É que temos, à partida, duas filosofias económicas muito diferentes. Do lado americano, impera uma maneira extremamente liberal, permissiva, de olhar para a economia privada: manda o mercado e quem o consegue dominar. Na Europa, habituámo-nos a um capitalismo mitigado e intervencionado, que vive à sombra da mão protetora do estado. Essas culturas não mudam de hoje para amanhã. Devem ser reconhecidas, tidas em conta, tratadas com realismo. Por políticos que saibam assumir-se como líderes, que não tremam como varas verdes, nem conforme os ventos que sopram.

 

(Texto que hoje publico na Visão on line)

 

 

Acordos comerciais e geoestratégia

Esta semana terminam cinco anos de negociações entre os EUA e mais onze países da Ásia e do Pacífico. Trata-se do acordo final de comércio conhecido como a Parceria Trans-Pacífico, ou TPP. Inclui, para além dos americanos, o Japão, a Malásia, o Canadá, a Austrália, Singapura, o Perú, o Chile, o México, Brunei, o Vietname e a Nova Zelândia. Estes países representam 40% do PIB mundial. A reunião que permitirá aos ministros do comércio acertar as últimas agulhas começa amanhã no Havai.

Para além da dimensão comercial, que é muito importante, o TPP permite duas outras leituras, de natureza política, que gostaria de sublinhar.

A primeira diz respeito à China. A China não faz parte do acordo, o que em grande medida é visto como uma vitória estratégica favorável aos EUA e ao Japão. Houve a preocupação de a excluir do processo.

A segunda tem que ver com a UE. Os EUA estão metidos numa negociação semelhante com Bruxelas, conhecida pelas iniciais TTIP. Mas na realidade, a grande prioridade política, para Washington, é o Pacífico. O Pacífico, numa concepção ampla, que engloba igualmente o Canadá e países considerados de grande interesse na América Latina.

O TTIP também terá a sua importância, é claro, mas o esforço principal era o de conseguir levar a bom porto o TPP. Até porque com esta parceria aprovada, nos moldes em que o está a ser, vai ser muita mais fácil, pensa Washington, influenciar os europeus e fazê-los aceitar certas posições americanas. Nomeadamente no que respeita ao mecanismo de resolução dos conflitos comerciais. No entender americano, esse mecanismo deve seguir um modelo arbitral, fora da alçada dos tribunais convencionais.

 

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