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ONU: Primeira volta

O primeiro voto informal relativo ao processo de eleição do futuro Secretário-Geral da ONU teve lugar hoje no Conselho de Segurança. E as primeiras indicações, baseadas ainda em informações incompletas, são certamente muito favoráveis para o candidato português, António Guterres. Por duas razões. Primeiro, pelo elevado número de votos “de encorajamento”: 12 num total de 15. Depois e sobretudo por não ter nenhum voto de “desencorajamento”. Esse tipo de votos é muito perigoso. Basta que um deles venha de um membro permanente do Conselho para termos o caldo entornado. Ou pelo menos, para que a eleição se torne bem mais difícil. 

No caso presente o segundo candidato mais forte, Danilo Turk da Eslovénia, teve dois votos de “desencorajamento”. Turk era à partida uma das grandes apostas: vem da Europa do Leste, conhece bem a ONU, fala bem e é convincente. Mas esses dois votos negativos podem trazer muita água no bico. Não serão, no entanto, barreiras intransponíveis. Kofi Annan também tinha um voto desses vindo da França. Depois de muitas conversas, a diplomacia acabou por virar a opinião dos franceses no bom sentido. E Kofi ganhou.

Irina Bokova, a Directora-Geral da UNESCO, cidadã búlgara, aparece como a mulher com mais hipóteses. Mas ainda não sei se recebeu votos de desincentivo. Se assim tiver acontecido, creio que não terá hipóteses de ganhar. 

Tudo ficará mais claro quando tiver lugar a próxima ronda.

 

 

Sobre a ONU

Tive hoje a oportunidade de dizer publicamente que na eleição do próximo Secretário-Geral da ONU o critério absoluto vai ser o geopolítico. Como é aliás tradição. Só que desta vez, esse critério ainda será mais estreito. É quase certo que o vencedor será alguém originário da Europa do Leste. E os países sabem que assim deverá ser. Por isso, dos sete candidatos anunciados oficialmente seis provêm de estados dessa região. António Guterres é a excepção. É verdade que vem do grupo europeu, mas como acima digo, este ano a definição geopolítica é mais apertada.

O segundo critério será o do género. Não deve ser visto como um crivo absoluto. Mas pesará.

Em terceiro lugar, dar-se-á vantagem ao candidato que possa fazer a ponte entre os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança. Existe uma preocupação evidente em relação a Putine. A tendência actual vai no sentido do restabelecimento do diálogo com Moscovo. O candidato da Europa do Leste que tenha mais condições para fazer essa ligação poderá ter mais hipóteses.

E o quarto critério é o da sorte. O processo é complicado. Podem surgir objeções de última hora. E aí ganha o inesperado.

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