Este é o link para o meu texto de hoje no Diário de Notícias. Cito, de seguida, umas linhas, como já é costume.
"E os principais importadores de cereais são a China, o Egipto, o Japão, o México e a Arábia Saudita. Assim se compreende que nos últimos doze meses, durante a vigência do acordo do Mar Negro, cerca de 25% dos cereais que passaram por esse corredor marítimo tivessem como destino a China. A continuação do acordo, que esta semana expirou por decisão da Rússia, teria interessado à China, para além da Espanha e da Turquia, que adquiriram, respetivamente, cerca de 20% e 10% da carga transportada. E ao nível dos países mais vulneráveis, apenas o Egipto importou um valor com algum relevo (1,55 milhões de toneladas), mais do dobro da tonelagem comprada, para fins humanitários, pelo Programa Alimentar Mundial da ONU."
Ao longo da minha vida profissional estive envolvido em vários processos eleitorais. Pude assim observar que uma das características dos regimes autoritários passa pela condução de um processo eleitoral totalmente desfavorável aos candidatos da oposição. Não se lhes dá tempo de antena. Não os deixam organizar um número suficiente de comícios e de reuniões de esclarecimento. Criam-lhe um sem-número de obstáculos. Inventam todo o tipo de mentiras contra a oposição. Acusam os seus principais dirigentes de serem inimigos da nação, pagos e ao serviço de forças estrangeiras. E assim sucessivamente. Mas, no dia da eleição, quando há observadores eleitorais independentes por toda a parte, os ditadores comportam-se como democratas, fazem respeitar a ordem pública e procuram dar uma imagem de liberdade de escolha quando na realidade os cidadãos passaram meses a ser influenciados e enganados.
Neste tipo de circunstâncias, é extremamente difícil derrubar um ditador. Com a faca e o queijo na mão, um ditador inteligente abusa de todos os instrumentos de poder para se fazer reeleger. O que parece ser uma escolha popular é na verdade o resultado de uma prolongada lavagem ao cérebro dos cidadãos.
Nalguns casos, quando apesar de todas as trafulhices levadas a cabo ao longo de meses, o resultado das eleições não é favorável ao ditador, inventam-se vários esquemas para a influenciar os trabalhos das comissões eleitorais e levá-las a declarar certos resultados como nulos ou mesmo a invalidar todo o processo eleitoral. Como dizia Robert Mugabe, quando falávamos destas coisas, só um ditador muito estúpido ou muito distraído é que perde eleições.
Deixo acima o link para o meu texto de hoje no Diário de Notícias. Tinha de ser sobre as eleições turcas que têm lugar este domingo. Poderão resultar no aparecimento de um novo foco de instabilidade numa zona geopolítica muito complexa e imensamente importante para a União Europeia.
Cito as seguintes linhas do meu texto:
"Em ambos os casos, seja quem for o vencedor, a margem da vitória poderá ser muito estreita. Se assim acontecer, não é impensável supor que o vencido possa recusar-se a aceitar o resultado. Nesse caso, criar-se-ia uma crise política e um processo de agitação social muito graves. Ora, ninguém quer ver a Turquia numa situação de profunda instabilidade interna. Sobretudo nós, os vizinhos europeus. Já temos problemas que bastam. Qualquer indício de crise pós-eleitoral na Turquia deve ser tratado com muita circunspeção e a uma só voz."
Contactos entre as partes: antes e depois de Kherson?
Vladimir Putin: não aparece na reunião entre Sergei Shoigu e Gen. Sergei Surovikin na quarta-feira, 9 de nov, onde a decisão sobre a retirada de Kherson é tomada publicamente
G20
Putin ausente: existe um isolamento diplomático em relação à Rússia?
O encontro entre Joe Biden e Xi Jinping: o que estará na agenda?
As eleições intercalares (midterm) nos EUA:
As previsões das sondagens e os resultados
Joe Biden e o seu futuro político
Donald Trump e as eleições presidenciais dentro de 2 anos
Ron DeSantis e o Partido republicano
ERDOGAN
PIB de USD12 600 em 2013 a USD 7 500 em 2022
Inflação 83% pelo menos
A questão curda PKK 20% da população turca (total 82 milhões) os curdos da Síria que estão na Suécia
Num directo para o noticiário das 18:00 horas da RTP 3, disse, entre muitas outras coisas, que estava convencido que o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, iria continuar a vetar a entrada da Suécia e da Finlândia para a NATO. E expliquei as razões.
Uma hora e meia depois, o Secretário-Geral da NATO anunciou que a Turquia, a Suécia e a Finlândia haviam chegado a um acordo e que o veto havia desaparecido. Ou seja, a minha análise estava errada.
Foi, na verdade, uma surpresa. Não apenas para mim. Para todos os que não estavam no âmago das negociações. Até o meu “amigo Boris” foi apanhado de surpresa, por exemplo.
Para além da surpresa, existem outras preocupações. Nomeadamente sobre a possibilidade de ver deportados para a Turquia certos oponentes entretanto refugiados na Suécia.
Terei que voltar, por causa dessas preocupações, ao assunto. Espero que da próxima vez não erre, não seja desmentido por acontecimentos de última hora.
Alguns comentadores têm emitido reservas quanto à decisão finlandesa de adesão à NATO. E irão certamente continuar na mesma linha, quando a decisão sueca for oficialmente anunciada.
Parece-me despropositado emitir esse tipo de críticas. Os dirigentes políticos da Finlândia – e a população – têm a maturidade e a experiência necessárias para decidir se é ou não no interesse nacional avançar agora com o processo de adesão. Mais ainda, sabem comparar a Rússia de Vladimir Putin com a União Soviética dos outros tempos. E acham que a ditadura de um só homem é bem mais perigosa do que a maneira mais colegial de decidir – o Politburo – da era soviética.
Iniciado o processo, caberá então aos actuais 30 países membros da NATO avaliar o pedido de adesão. Todos terão de o aprovar. Ou seja, o filtro seguinte é igualmente muito exigente. Do ponto de vista da ordem democrática e da qualidade e eficiência das forças armadas finlandesas e suecas não haverá qualquer obstáculo. Ambos os países reúnem os critérios exigidos pela NATO. Têm, aliás, uma história de cooperação com a NATO.
A Turquia poderá levantar formalmente, ou de modo mais reservado, algumas objecções, como já deu a entender. São, no entanto, reservas oportunistas, para obter vantagens nacionais. Não têm nada de estratégico.
A posição russa é conhecida. O que não é claro é o tipo de retaliações que virá a adoptar. Neste momento, é difícil prever. Estamos em plena crise por causa da agressão contra a Ucrânia. E por muito que se diga, a Rússia de amanhã será um país muito influenciado pelo desfecho da crise ucraniana.
Desde o início do ano, a libra turca perdeu 52% do seu valor em relação ao dólar americano e 48% quanto ao euro. A economia está em crise profunda. O custo de vida tornou-se insuportável, com uma inflação superior a 30%, segundo os dados oficiais, que não são credíveis. O valor estimado da inflação anda perto dos 60%.
Tudo isto devido às intervenções contínuas do Presidente Erdogan na gestão monetária e financeira. O colapso económico é evidente.
Hoje, o presidente anunciou um aumento do salário mínimo de $182 para $275 (ao câmbio de agora), a partir de Janeiro. Mas como a libra continua a perder valor, esse aumento será rapidamente anulado pela depreciação da moeda.
Qual vai ser o impacto de tudo isto sobre o regime de Erdogan? Essa é a questão que os analistas agora levantam.
O comportamento político de Alexander Lukashenko em relação à Polónia e ao resto da União Europeia é um acto de grande hostilidade. Na realidade, é uma agressão e uma tentativa descarada de desestabilizar a UE, utilizando a miséria de certos povos como arma de ataque. Tem, igualmente, uma dimensão de desumanidade inqualificável. Milhares de pessoas são atraídas, no Iraque e noutros sítios do Médio Oriente, a sua viagem para Minsk facilitada e depois são encaminhadas para a fronteira com a Polónia, onde as espera o frio, a fome e o desespero.
Este tipo de violência política e humana não pode ser tolerado. É um acto de guerra, casus belli, ao qual se deve responder com todo o arsenal de sanções existente na União Europeia. Sem demoras e visando directamente Lukashenko e os seus.
Marrocos e a Turquia estão a estudar o comportamento que será adoptado pela UE. Estes países têm tido comportamentos semelhantes aos praticados agora pela Bielorrússia, embora com mais moderação no caso de Marrocos. Precisam de receber uma mensagem clara da Europa: actos assim, o empurrar milhares de migrantes para as fronteiras europeias, acarretam respostas de muito peso. São acções praticadas por Estados inimigos.