As redes sociais contêm vários comentários sobre as entrevistas televisivas dos candidatos presidenciais. Devo confessar que ainda não tive a oportunidade – esta é uma maneira diplomática de pôr a coisa – de ver nenhuma dessas entrevistas. Mas pelos comentários que vou vendo parece que os entrevistadores não têm estado à altura. A ser verdade, é uma pena. Uma campanha presidencial deveria ser o momento para levantar algumas das grandes questões sobre o futuro do país. E para perceber se os candidatos têm uma visão nacional. Perder tempo em questões da hora e navegar na espuma do tempo que passa não será a melhor maneira de tratar os candidatos. Mostra falta de inteligência, de respeito pelos candidatos e pelos eleitores.
A verdade é que temos jornalistas muito bons. Mas não são esses que têm acesso aos ecrãs. Quem manda nas televisões parece pensar que os jornalistas mais intempestivos, mais primários, mais arrogantes são os que atraem audiências. Isso significa que os patrões das televisões vêem os portugueses como uma série de brutos que apenas querem circo político e violência verbal.
Tem-se falado muito de televisão, nos últimos dias. É um debate sem fim porque a programação televisiva é antes de tudo um negócio. Existe uma competição feroz entre os diferentes canais generalistas, que depois se traduz em vendas de anúncios. O preço da publicidade depende do número de telespectadores, das chamadas audiências. Cada canal está constantemente à procura do que possa ser popular e diferente do que a porta ao lado apresenta. A diversão pura e simples, fácil de entender e com a participação – passiva ou activa – do público alvo, parece ser a via mais segura para captar telespectadores. Nestas coisas, os únicos limites, as linhas vermelhas que não deverão ser ultrapassadas, são as que se referem à promoção da criminalidade, da ilegalidade e das ideias intolerantes, atentatórias da dignidade das pessoas.
Este não é um fenómeno tipicamente português. Assim acontece noutros países da UE.
O que é muito nosso, e muito mau, é a qualidade dos telejornais. Sobretudo, os da hora do jantar. Aí, estamos de longe na categoria do péssimo. Uma hora, ou mais, de banalidades, é inaceitável. Qualquer crítica dos canais generalistas portugueses deveria começar por uma análise demolidora do lixo que define os telejornais de maior audiência. São uma vergonha que precisa de ser constantemente denunciada.
Ver Marcelo Rebelo de Sousa no seu programa semanal de ontem na TVI, uma coisa que eu não fazia há muito tempo, foi um descalabro. O professor está em nítida perda de velocidade e argúcia intelectual. O que diz é crescentemente superficial, o comentário pela rama, para agradar a um vasto círculo de possíveis apoiantes. Só que o círculo é indefinido e as opiniões são cada vez mais corriqueiras e assentes em análise de joelho e de palpite.
Faz pena ver Marcelo a descarrilar assim. Talvez seja tempo para pensar noutras actividades, na reforma, nos netos, sei lá em quê...
Por outro lado, o jornalista que o entrevistou, nem vale a pena lembrar o nome, foi uma lástima. Esteve perdido durante a conversa. Mal conseguia articular uma frase. Devia estar ali por engano e para fazer um frete.
Existe, na União Europeia, um país que permite a indivíduos condenados a penas de prisão maior, por tribunais devidamente constituídos, andar em liberdade, sem qualquer restrição, e aparecer diariamente nas primeiras páginas da imprensa nacional a atacar juízes e a justiça. Nenhum desses seres é, em seguida, importunado pela procuradoria da república, que difamar juízes e fazer campanha contra a justiça não parecem ser crimes públicos nesse tal país.
E os media colaboram, que também por esses lados não há cabeça nem sentido das responsabilidades.