Nos últimos dias tem-se escrito muito sobre as plataformas sociais. Em geral, para demonstrar todos os malefícios que elas estão ligados. Quem assim escreve são pessoas da elite, que têm acesso aos meios de comunicação social, onde publicam colunas de opinião ou aparecem nos ecrãs. Os seus comentários não traduzem o modo de ver do cidadão simples, que não tem acesso aos órgãos tradicionais nem maneira de fazer ouvir a sua voz. Também não têm em conta que vivemos num mundo digital, em que há uma democratização da informação, novos padrões de comunicação e muito mais gente a produzir opinião.
É verdade que existem problemas e fenómenos negativos ligados às plataformas sociais. Mas também é um facto que assistimos a um fosso crescente entre as elites e o comum dos mortais. Ao pensar nisso, é de perguntar qual é o papel das elites quando se trata de promover a boa utilização das redes sociais?
Quando se procura fazer intervenção social, a mensagem com 140 ou menos caracteres é a maneira de comunicar que mais impacto tem. Nestes tempos de abundância de informação ninguém tem tempo e paciência para ler longos textos. Os nossos jornais ainda não o perceberam. O mesmo acontece com vários blogs de autores muito sérios. Continua a publicar-se escritos cheios de floreados e de meandros infindáveis. Muita conversa e pouca carne.
Donald Trump foi dos que já percebeu a força que um tweet pode ter.
A minha própria conta no Twitter tem milhares de leitores diários, algo que não acontece, nem de muito longe, no que respeita aos meus blogs. Assim, pouco a pouco, o meu investimento vai ser sobretudo ao nível dessa conta. Seria um erro não reconhecer as mudanças que estão a ocorrer em matéria de comunicação social.
Entretanto, ficam aqui os votos de um bom ano de 2017. Um ano que irá certamente ser um desafio muito interessante em termos de intervenção social. O meu papel será o de alimentar a crítica construtiva.
Na cena política turca, Recep Tayyip Erdogan aparece como um gigante. Primeiro-ministro há mais de dez anos, reeleito pela terceira vez em 2011, com cerca de 50% dos votos, Erdogan herdou uma situação caótica mas soube dar-lhe a volta. A economia e o nível de vida cresceram, as finanças públicas estabilizaram, o que em 2003 parecia impossível, as infraestruturas e os serviços sociais foram modernizados e expandidos. No campo externo, fez surgir uma potência com ambições regionais. Basta passar pelo aeroporto de Istanbul para se perceber como o país se está a transformar numa placa giratória entre a Europa e os Orientes. Muitos observadores começaram a dar a Turquia como um exemplo de um país emergente com sucesso. Isto apesar de algumas reservas, ditas em voz baixa, sobre a inspiração religiosa retrógrada do primeiro-ministro.
No caso mais concreto dos círculos dirigentes da UE, a Turquia de Erdogan tem sido vista como um caso complexo, uma espécie de bom vinho passível de provocar uma ressaca penosa. A Europa mantém com a Turquia uma relação sol e sombra. O crescimento económico, que abriu novas oportunidades de negócios para as empresas europeias e baixou a pressão migratória, com uma redução evidente do fluxo de famílias turcas à procura de vida na Europa, é apreciado. Como também se dá valor ao papel que Ankara tem desempenhado em termos da segurança da região, na contenção do Irão, no apoio à oposição síria e no combate ao terrorismo. Ao fim e ao cabo, a Turquia é um pilar fundamental da NATO, o único de base islâmica e inserido numa encruzilhada geopolítica de importância estratégica indiscutível.
Do outro lado, a questão sem fim da adesão à UE é uma dor de cabeça recorrente, um problema que a França, a Alemanha e outros gostariam de varrer de vez para debaixo do tapete europeu. A resposta é claramente que não, adesão nem pensar, mas falta a coragem política para fechar um assunto que se arrasta desde 1987. E a essa locomotiva vacilante acrescentam-se outros vagões, que tornam a marcha ainda mais improvável: a teimosia turca face à partição de Chipre, a competição militar desenfreada com a Grécia, e, na frente interna, a corrupção, bem como as violações de direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos e da independência do sistema judicial.
Na verdade, a governação de Edorgan, por muito que se possa dizer de positivo, entrou numa deriva autoritária, sobretudo a partir de 2009. Começou pela humilhação das forças armadas, feita com base em acusações e em julgamentos que não teriam sustentação num qualquer outro país da NATO. Continuou com a comunicação social. O poder soube utilizar a arma fiscal, multas e penas de prisão incluídas, para reduzir os grupos empresariais que controlam os principais medias à aquiescência política. A Turquia tem mais jornalistas por detrás das grades que muitas ditaduras reconhecidas. Recentemente, foi a vez de introduzir legislação que põe os juízes e os procuradores debaixo do arbítrio do governo. Procedeu-se, também, ao saneamento político das polícias. Agora, ao proibir o acesso ao Twitter – um meio que os jornalistas e outros activistas têm utilizado para ultrapassar a autocensura imposta à comunicação social – é a sociedade civil que está na linha de mira. Ou seja, o único pilar da democracia que ainda faz contrapeso a Erdogan.
Em política, é muitas vezes assim. Os que se tomam por gigantes crêem-se indispensáveis, salvadores da pátria. Procuram, por isso, eternizar-se e acabam por se metamorfosear em monstros políticos. Com o tempo, é certo que sairão de cena, mas aos empurrões, quando poderiam ter saído pelo seu pé e com glória.