A maior parte dos que escrevem e partilham opiniões políticas em Portugal são dogmáticos. Têm opiniões de pedra e cal. Cada opinião é apresentada como a última expressão da sabedoria do autor sobre o assunto que o momento o leva a tratar. Não deixam espaço para o debate, nem querem deixar aperceber as outras dimensões que a questão possa levantar. É tudo a preto e branco. A verdade de um lado, o erro do outro. Escreve-se e fala-se de tal maneira que as frases parecem facadas e golpes de espada.
Mesmo quando os autores são apresentados como “académicos”. Não são académicos, são intransigentes e de ideias feitas, que é o contrário do que a universidade deveria ser. Uma boa parte dos nossos “cientistas sociais” é apenas um propagandista da fé, politicamente dogmáticos, em vez de inquisitivos.
Ora, a realidade da nossa vida colectiva é muito mais matizada. E nas questões políticas e sociais não existem respostas simples. Antes pelo contrário.
O dogmatismo é um tique ditatorial. Extremista. Esmagador das opiniões não concordantes. É antidemocrático. E também é uma prova de grande burrice mental. De quem o pratica e, infelizmente, de quem dele se alimenta.
Numa altura em que se fala tanto das admissões às faculdades, lembro-me que o Quirguistão, um país de menos de 6 milhões de habitantes, tem 56 universidades. Todos os anos produzem um número elevado de licenciados, mestres e doutores, que depois não encontram emprego. O nível da frustração entre os jovens é alto. A emigração para a Rússia e o Cazaquistão é a saída mais frequente.
Por outro lado, quase não existem cursos de formação técnico-profissional no país. Os poucos rapazes e raparigas que frequentam esses cursos têm trabalho garantido, uma vez terminados os estudos. Mas não têm o prestígio profissional que as universidades ainda parecem dar.
Não tenho grande admiração pelos políticos portugueses. Isso é sabido, segundo suspeito.
E também me interrogo muito seriamente sobre a qualidade científica do nosso ensino superior nas áreas da economia, da sociologia, de direito e dos estudos políticos. Quando vejo o que esses professores dizem em público e escrevem na comunicação social fico muito preocupado com a sorte dos seus alunos.
O pior é quando o político e o professor universitário coincidem e são uma e a mesma pessoa. Saem então barbaridades que nem o Deus do tal ministro de hoje nos salva.
Quem lê regularmente este blogue sabe que tenho repetidamente condenado as praxes académicas. São práticas primárias, primitivas, violadoras dos mais elementares direitos das pessoas, que na maioria dos casos configuram actos criminosos e ilegais. Numa sociedade moderna e capaz de funcionar como um Estado de direito, as autoridades de polícia e de justiça teriam desde logo agido contra essas actividades criminosas. Em Portugal, onde existe o hábito de fechar os olhos e fingir-se que não se vê, as polícias e os procuradores da república têm, nesta matéria, faltado ao dever profissional e ignorado os crimes.
Agora, apareceram mais umas vozes a juntar-se à minha. Mas falta, nesse coro, o reconhecimento de que estas práticas têm que ser tratadas como matéria criminal.
Sem esquecer, claro, que uma futura elite – os estudantes universitários – que aceita essas práticas só pode vir a ser, no dia em que estiver no poder, uma elite de trogloditas numa sociedade que conserva traços do obscurantismo de outrora.
Foi hoje criado, por iniciativa do Ministério da Administração Interna, um “Grupo de Reflexão Estratégico em Segurança Interna (GRESI)”. Este grupo vai estar ancorado no Instituto de Direito e Segurança da Universidade Nova de Lisboa.
Vou seguir o seu trabalho com interesse.
Pelo nome, parece que é o grupo que é estratégico, não a reflexão. Espero, no entanto, que consiga produzir uma reflexão de importância estratégica, numa área onde há muito que deveria ser modernizado e tornado mais eficiente.
Temo, no entanto, que falte ambição e coragem. O líder do grupo, alguém próximo de Isaltino Morais, um professor que dá pelo nome de Nelson Lourenço, deu há meses uma entrevista à RTP, onde disse que em Portugal não há excesso de polícias, embora o rácio de agentes por habitante seja dos mais elevados da UE. É certamente uma maneira curiosa de ver as coisas.
Mas o melhor é esperar e ver o que vai resultar desta reflexão.