A derreter
55 graus na sala de reuniões, 100 por cento de humidade, um ambiente de Inferno, numa reunião amigável com as ONGs que operam na República Centro-Africana, gente jovem e cheia de boa vontade, tudo no edifício do PNUD, onde trabalhei há 25 anos, os aparelhos de ar acondicionado tão a cair de velhos que alguém disse que devem ser os mesmos que eu instalei nessa mesma sala, quando aí cheguei em 1985, preocupações sobre um processo eleitoral que só é credível para quem queira acreditar nele, uma equipa de desmobilização de combatentes muito profissional mas dirigida por incompetentes, um país de diamantes em que os pigmeus são uma atracção anacrónica, enfim, um dia bem preenchido, de fato e gravata.
A voltar ao aeroporto, ao fim do dia, para voar para outras paragens, havia também o voo da TAAG, uma ligação de Luanda, por Brazzaville e que de Bangui vai a Douala, uma outra maneira de sair destas terras isoladas. Ao lado do jacto das Nações Unidas, um bom avião de classe acima da média, havia dois outros jactos privados, muito maiores, mais luxuosos, um francês e outro do Congo, o pequeno Congo, que fariam nesta cidade, nesta Bangui de palhotas e de dancings populares, de gente pobre e de recursos naturais vastos, urânio, entre eles, sem contar o ouro e os diamantes. Estariam os senhores dos jactos numa das palhotas onde se serve vinho de palma? Ou nos salões sossegados do poder, onde se fala do minério do urânio com a delicadeza que a gente fina possui?
Passam-se coisas interessantes nestes apeadeiros de fim de linha.