Viagens
Copyright V. Ângelo
Passeios e deslumbres.
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Copyright V. Ângelo
Passeios e deslumbres.
Os Picos da Europa e a Região de fronteira entre a Cantábria e as Astúrias são terras de uma grande beleza natural e muito bem organizadas, do ponto de vista turístico. Passar algum tempo em Santillana del Mar, um aldeia que vem dos tempos da baixa idade média, e' uma delícia.
Apesar de tudo, nota-se menos gente do que e' costume. Ingleses, Franceses, Nórdicos e muitos Espanhóis, mas não o suficiente nem o que e' habitual nesta altura do ano.
Quanto aos Portugueses, o patriotismo de Cavaco Silva tem tido algum efeito. Vão todos passar as férias em casa. E' melhor para a economia, sobretudo para a doméstica.
Foi um dia de estrada. Oitocentos marcos, pela Franca abaixo. Paris, embora fosse Domingo, por isso, com menos transito, que muitas empresas estão fechadas, continua a ser um inferno de movimento, engarrafamentos, carros e motas aos milhares, e' impossível calcular quanto tempo vai demorar passar pela cidade das luzes e dos sonhos. Com o GPS aos comandos, sempre se vai por umas estradas por onde ninguém quer passar, o inferno do tráfego e' substituído pelos buracos feios dos bairros da periferia anónima, impessoal, cruel destruidora da alma das pessoas.
Já ao fim do dia, em La Rochelle, foi possível esquecer o pesadelo dos periféricos. O restaurante Les 4 sergents, recomendado por Michelin, ajuda a apagar os quilómetros. Na mesa ao lado, jantava um jovem, tudo muito bem comido e melhor regado, com os seus dois cães de estimação como companhia. Um no regaço, outro aos pés, os malandrecos portaram-se bem, mas gostaram imenso de ir provando as estrelas do chefe. A determinada altura, veio um prato de mexilhões, preparado com requinte, e um dos bichos ficou de olhar fixo, que os mariscos tinham bom cheiro e pareciam estar bem preparados. Tudo com excelentes maneiras, que nestas coisas recomendadas pelo Michelin, os Ingleses, os Franceses, eu por acaso, portam-se bem.
Não há crise, como diria o outro.
Ao percorrer, ontem à tarde, a campina entre Tervuren e Lovaina, em terras da Flandres, a duas dezenas de quilómetros da capital, notei a variedade colorida dos campos, todos explorados com rigor e de modo racional, a tranquilidade das aldeias, com as casas renovadas nas últimas décadas, que o dinheiro fresco é primeiro para investir na habitação, as flores a espreitar o viajante que passa, tudo muito arranjado e limpo, que a beleza e o ordenamento da paisagem fazem parte do enriquecimento da vida.
Não sei bem porquê, mas acabei a pensar no meu amigo L. Jantara com ele, uns dias atrás, no bulício jovem das docas de Lisboa. Entre umas garfadas no polvo à lagareiro e uns olhares mais atentos ao mundo que passava ao lado da mesa, o L. queixou-se dos povos do Norte da Europa. Que, agora que estamos em crise, mostraram mais uma vez o desprezo que têm pelas gentes do Sul, a arrogância de quem pensa que no Sul não se trabalha, não há disciplina, não existe sentido cívico nem respeito pelos outros. Acrescentou, ainda, que o novo filme sobre o Robin dos Bosques, que não vi, revela bem todos esses preconceitos, bem como o anticatolicismo do Norte, o antipapismo. O L., que é uma das pessoas mais argutas que conheço, vê assim as relações entre o Norte e o Sul.
Da próxima vez, iremos continuar a nossa conversa nestas campinas, que tanto dizem.
Agradeço a todos os que, de um modo ou de outro, tiveram em conta a questão que ontem trouxe à consideração de quem me segue, neste blog. Respostas certamente interessantes, muito no sentido de apoiar o primeiro tema. Assim será. Terei em conta. Mas gostaria de lembrar a importância do tópico número três, sobre a igualdade entre os homens e as mulheres. Mesmo na Europa mais avançada, é assunto ainda não resolvido. Veja-se, por exemplo, o caso do novo governo britânico. São poucas as mulheres na fotografia, em número quase sem significado, com excepção do ministério do interior, um departamento muito importante na estrutura governamental da Grã-Bretanha. David Cameron podia ter feito melhor.
Já que estou em maré de agradecimentos, queria aqui reconhecer o esforço das diferentes secções da PSP que contribuiram, com muito profissionalismo, para a segurança do Papa, durante a sua visita a Portugal. Quem está por dentro dos sistemas de segurança sabe que a PSP fez um trabalho excelente. Os riscos existiam, mas tudo correu bem. A PSP que se vê na rua é apenas uma pequena parte de uma estrutura complexa, que vive da dedicação dos seus elementos, mulheres e homens. Uma dedicação que vai muito além das parcas compensações que usufruem.
A visita de Bento XVI a Portugal é apreciada, mesmo pelos portugueses que não são Católicos. Que tudo corra bem durante a sua estada em terras lusas.
A Noruega é um Estado tipo incubadora. Os cidadãos estão totalmente protegidos pela máquina pública. Muitas das instituições funcionam com grande autonomia, é verdade, como se fossem iniciativas da sociedade civil, mas na realidade vivem de subsídios anuais inscritos no orçamento geral do Estado.
Esta situação é possível graças aos rendimentos do petróleo. As reservas das finanças públicas são astronómicas.
O cidadão acomoda-se, sente-se seguro, trabalha o mínimo necessário, as vantagens laborais em termos de tempos livres são enormes. Gera-se um sentimento de nacionalismo descontraído, uma sensação de superioridade, uma população capaz de ser generosa mas ao mesmo tempo alienada, sem uma noção clara do que podem ser as dificuldades da vida.
É um modelo que não é reproduzível.
Uma nota final: os preços da alimentação, do vestuário, dos serviços são de tal modo caros que se tornam um indicador de uma sociedade que anda nas nuvens.
O aeroporto de Bruxelas estava às moscas. A maior parte dos voos haviam sido cancelados, uma vez mais. Coisas de gente que não está para arriscar. O avião da tarde, para Lisboa, foi um dos poucos a bater as asas e fazer-se às cinzas. Um dos meus companheiros de viagem havia passado quatro dias num dos hotéis do aeroporto. Ontem, um homem, com sentido de oportunidade, meteu-se à fala com ele, na recepção do hotel. Disse-lhe que por 2000 Euros o conduziria a Lisboa.
Há sempre um negócio possível, nos momentos de grande confusão.
Três patuscos, duas mulheres e uma coisa parecida com um homem, velho, barba de vários dias, e meio morto de não sei quê nem por que razão, viajaram igualmente. Gente com muitas décadas em cima das banhas. No aeroporto, enquanto as mulheres falavam, num daqueles vernáculos que faria corar um cabo velho da velha GNR, sobre pessoas suas conhecidas, gente da emigração, dura como as pedras e tosca como um carvalho dos antigos, primária na sua maneira de viver a vida, mas com sucesso financeiro, o farrapo ia emborcando umas cervejas, à falta de uma boa aguardente de aldeia das brenhas natais. Já a bordo, enfiou mais duas, para chegar à meia dúzia. Fora o gesto de levar a lata ao buraco da boca, pouco mais mexia, naquele corpo que já viu outros ritmos de energia. Quarenta anos de emigração dão umas coroas para um processo de embrutecimento alcoólico, a juntar ao resto.
Fora isso, o embaixador da Guiné, também previsto no trajecto, faltou à chamada. Anda escondido, ao que parece, nos becos mais escuros de Bruxelas, que Bissau não lhe envia meios há tempos que já não têm conta. Os credores devem andar loucos, à procura do senhor embaixador ou de quem responda por ele. Isto de ser o representante de um país que avança para o futuro em marcha atrás tem que se lhe diga.
Disse recentemente que somos um país mais perto de Fátima do que da capital, Lisboa. Assim o penso. Boa gente, não tenhamos dúvida, mas que acredita mais nuns pastorinhos de um Portugal antigo do que nos valores que nos podem abrir as portas do futuro e do mundo.
Hoje, no meu voo para a Europa, viajavam mais de quarenta peregrinos, em trânsito por Bruxelas para a Terra Santa. Vinham de uma paróquia perto de Lisboa, na linha de Cascais. A idade média deste grupo devia rondar os setenta. Os indicadores exteriores de riqueza pareciam revelar poder de compra, sem grandes preocupações. Não entendiam as instruções do pessoal de cabine, nem em francês nem em inglês. Mesmo num trajecto tão simples, estavam perdidos. Perguntei ao organizador, um homem na casa dos quarenta, com toda a aparência de ser um português de raízes judaicas, que iria acontecer a esta gente, quando fossem entrevistados pelos serviços de segurança em Tel Aviv. O aeroporto dessa cidade é dos mais rigorosos do mundo. Talvez, mesmo, o mais exigente. Sorriu, levantou os olhos para o céu, como que para dizer que uma boa mistura de fé e de ingenuidade acaba por produzir milagres.
George Soros não é homem de milagres, embora tenha ganho, no início dos anos 90, cerca de mil milhões de dólares numa especulação monetária contra o valor da libra inglesa. Quem tem os olhos abertos pode dispensar um milagrezinho. Soros acaba de criar, depois de muitas outras iniciativas de grande sucesso, como a fundação Open Society, uma nova instituição, um centro de reflexão de muito alto nível, sobre as novas maneiras de pensar a economia mundial. Chamou-lhe Institute for New Economic Thinking. A cerimónia de lançamento deste think tank, na Europa, teve lugar este fim-de-semana, em Cambridge. A famosa universidade. Vale a pena ficar com um olho apontado para esta matéria. É assunto de grande actualidade. Fica, no entanto, muito longe de todas as outras peregrinações, de Fátima ao Monte das Oliveiras.
Os grandes títulos da imprensa internacional de hoje continuam a ser sobre a Igreja Católica, a fotografia do Papa aparece nas primeiras páginas de vários jornais de referência, sobre a crise económica internacional, incluindo a paridade do renminbi, a moeda chinesa, com o dólar americano, mais a falta de vigor da economia Europeia, quando comparada com a dos EUA, da China ou da Índia - este assunto merece um editorial de primeira página no Le Monde, com o título bem sugestivo de "Europe, reveille-toi". A estes temas juntam-se os conflitos no Afeganistão e no Iraque, a insegurança no Paquistão, o assassinato da relíquia do apartheid que foi Terre'Blanche, mas acima de tudo o lançamento de uma nova maquineta computorizada, capaz de fazer tudo e mais alguma coisa, o iPad.
Ou seja, não há grandes novidades. O que permite tempo para viagens tranquilas e para reflectir. Dois luxos juntos, que no meu caso, são como um milagre. Dever ser da época festiva.
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