A tragédia que o Haiti está a viver toca-nos muito. Tenho, na minha Missão, vários funcionários de nacionalidade haitiana. Estão como que paralisados, o choque foi demasiado grande. A nossa equipa de aconselhamento psicológico, um pequeno conjunto de especialistas que está muito habituado a lidar com traumas violentos, em zonas de conflito, tem estado em contacto com os colegas que ficaram mais fragilizados.
O chefe da Missão da ONU no Haiti, Hédi Annabi, um velho colega meu, e o seu adjunto, o Luís da Costa, outro conhecido de muitos anos, continuam desaparecidos. Estavam, mais o Comandante da Força Militar da ONU, o Comissário da Polícia (UNPOL) e outros colegas seniores, numa reunião com uma delegação chinesa. Receia-se que tenham, todos, perdido a vida.
O destino é o que é. O General Gerardo Chaumont, um homem bom, argentino e com muita experiência em matéria de segurança, antigo comandante-geral adjunto da Gendarmeria Argentina, trabalhou um ano e meio comigo no Chade. Em finais de Dezembro, resolveu aceitar a sua transferência para a Missão no Haiti. Por ser mais perto de Buenos Aires. Queriam que fosse directamente de N'Djaména para Port-au-Prince. Se tivesse acedido, teria morrido ontem. Mas, não. Disse que só começaria as suas novas funções em Fevereiro. Quando o fizer, encontrará um Haiti destruído e à deriva.
O espectáculo do Governador do Banco de Portugal a ser interrogado pelos senhores deputados foi mais do que um diálogo de surdos. Foi um cena triste. Mais um episódio atabalhoado, numa assembleia sem homens de estado. Surdos e arrogantes. Um acto que simbolizou, de novo, a falta de elevação na vida pública portuguesa.
O vídeo deveria ser levado para as escolas secundárias e ser utilizado como material didáctico. Nas aulas de educação cívica. Mostrando claramente o que a cultura política não deve ser.
O meu texto na revista VISÃO desta semana é sobre as relações entre o Ocidente e o Islão, no seguimento do discurso do Presidente Obama na Universidade de Al-Azhar, no Cairo.
Na política, o que parece é. Mas, as verdadeiras razões são sempre outras, escondidas por detrás do teatro e das palhaçadas. A televisão é, por si só, um convite ao espectáculo enganoso.
Não convém perder de vista estas verdades, nem mesmo quando se está perante as mordidelas secas das velhas raposas.
São 23:00 horas. A temperatura no meu jardim, aqui na minha cidade de N'Djaména, esta' na casa dos 36 graus. Na minha sala de estar, tenho 43.
Quem se pode queixar, nestas terras, de que o preço do aquecimento central esta' pelas horas da morte? Nesta cidade, morre-se de calor a um preço muito acessível. São terras em que morrer sai barato.
Os piratas do Golfo de Aden, de quem falo na Visão on line desta semana, têm pelo menos a brisa do mar a seu favor. Vejam, por favor
As mortes do General Tagme Na Wai e do Presidente Nino Vieira talvez tenham o condão de fazer reflectir as elites militares e civis da Guiné. Talvez permitam aos dirigentes chegar 'a conclusão que e' altura de por termo a' violência e a uma cultura de conflito permanente. Que e' preciso deixar funcionar as instituições do Estado.
O país de Amílcar Cabral não pode continuar a ser governado a tiro, ao sabor das querelas de personalidades.
O Zé do Pedal, um Brasileiro com muitas pernas e muita pedalada, e também muito ânimo, esta' a atravessar a África num kart a pedais. Vem de Paris, já esteve em Portugal, encontra-se agora na fronteira do Mali, vindo de Dakar. Espera chegar 'a África do Sul a tempo de ver o campeonato do mundo de futebol.
Entretanto vai-se batendo por causas nobres.
E' um exemplo que prova, uma vez mais, que vale a pena sonhar.
Aqui junto a mensagem que me enviou:
" ... Vítor bom dia
acabo de ver teu blog...lá encontro tudo que vejo diuturnamente em minha viagem rumo a África do sul...as mesmas caras, os mesmos sorrisos, as mesmas tristezas, os mesmos sonhos...sonhos de um mundo melhor...parabéns pelas fotos e pelos relatos...tomara que as pessoas tenham um pouco mais de consciência e comecem a mudar o seu mundo.
Atualmente estou na fronteira Senegal/Mali
meu blog www.zedopedal.skyrock.com
felicidades
Agora que as moções partidárias e os congressos com vista 'a preparação das eleições irrompem como cogumelos depois das chuvas, conviria notar que a prioridade política em Portugal tem que ser a luta contra a pobreza, sobretudo a pobreza nos meios urbanos e das famílias com crianças por educar. Muito especialmente neste ano de grande crise económica.
O resto e' conversa de políticos que não têm os pés assentes na terra, como infelizmente e' a norma em Portugal. Mais, muitos dos nossos dirigentes não compreendem, nem nunca souberam, o que e' ser pobre num país como o nosso. São da classe média provinciana, ou da grande burguesia, ou então vivem com a mentalidade de funcionário burocrático, que e' tão típica das nossas gentes. Estão, e estiveram sempre, desligados das pessoas que sofrem para sobreviver o dia-a-dia.
Como não se pode resolver tudo ao mesmo tempo, a definição das prioridades devera' ser uma preocupação fundamental dos senhores que se dizem líderes.