Viktor Orbán é um campeão. O país de que é primeiro-ministro está com uma taxa de inflação na casa dos 25%, um recorde na União Europeia. Além disso, dirige um regime autocrático e corrupto, um dos piores exemplos na Europa. E é o único amigo que resta a Vladimir Putin, de entre os que têm uma liderança executiva, e não meramente simbólica, no espaço da UE.
Viktor Orbán é a maior ameaça que existe no interior da União Europeia. Agora vetou a ajuda que a UE previra fornecer à Ucrânia em 2023. A razão é muito clara: a Comissão Europeia não quer libertar os fundos destinados à Hungria, no quadro do plano de recuperação do impacto negativo da Covid-19, por considerar que existe corrupção no seio do governo de Orbán e porque as 17 medidas de boa governação que haviam sido recomendadas ao governo húngaro não foram levadas a cabo. Os húngaros em vez de levar a sério essas recomendações, decidiram fazer chantagem e bloquear o apoio à Ucrânia. Ou seja, em vez de procederem ao melhoramento dos seus sistemas de governação, preferem ajudar Putin a destruir a Ucrânia.
A conclusão de tudo isto é simples: há que acabar com a regra da unanimidade, quando questões vitais estão em jogo. E já agora, não dar tréguas a Orbán.
Este é o link para a crónica que hoje publico no Diário de Notícias.
"A extrema-direita está a ganhar terreno no espaço europeu. Surge, assim, uma questão muito direta: o que leva os eleitores a votarem por Meloni ou pelos seus aparentados, nestes diferentes países? Personalizo e digo Meloni, como diria Orbán ou Le Pen, ou mesmo Ventura, porque estes partidos são, de um modo geral, construídos à volta de uma personagem política, que encabeça a agremiação e procura fazer coincidir a imagem do partido com a do líder. Ainda agora, Fratelli d"Italia nos mostrou este facto: o nome da dirigente aparece primeiro e é escrito em letras mais gordas do que o nome do partido. O partido é uma mera câmara de eco, que existe apenas para repetir e amplificar a mensagem do chefe. Nestes partidos extremistas não existe um diretório político. O líder é o pastor de um aglomerado de carneirinhos, ao qual se misturam alguns lobos esfomeados de poder."
Este é o link para o meu texto desta semana na edição de hoje do Diário de Notícias. Trata-se de um comentário sobre a iniciativa que o Presidente Joe Biden tomou de convocar uma cimeira internacional sobre o reforço da democracia em várias partes do globo, incluindo nos Estados Unidos.
Cito de seguida um parágrafo do meu texto.
"Uma reunião deste género é, no entanto, uma grande encrenca. A lista dos excluídos vai dar tanto que falar como os temas em debate. A ONU tem 193 estados-membros. Biden convidou cerca de 110. Na UE, Viktor Orbán ficou de fora, dando assim um argumento de peso a quem vê no líder húngaro o que ele de facto é: um autocrata. Mas a Polónia, que não é certamente um melhor exemplo de um estado de direito, consta da lista. A razão parece clara: Varsóvia é um aliado militar fiel, e cada vez mais forte, da política americana no Leste da Europa. Ainda no que respeita à NATO, Recep Tayyib Erdogan também não aparece na lista. Muito provavelmente porque os americanos não apreciam a sua proximidade político-militar com Vladimir Putin. Erdogan tornou-se uma pedra na bota da NATO e isso deixa muita gente desconfortável. E no caso da CPLP, compreende-se a exclusão das duas Guinés – Bissau e Equatorial. Mas fica a interrogação sobre as razões que levaram a Casa Branca a não convidar Moçambique."
A democracia é um conceito muito elástico. Nenhum ditador reconhece que o seu regime é antidemocrático. Antes pelo contrário. Todos defendem o seu poder dizendo que foram democraticamente eleitos. Assim o afirmam Vladimir Putin, Nicolás Maduro, Bashar al-Assad e muitos outros. Também Robert Mugabe, no seu tempo, dizia que as eleições, que roubava descaradamente, eram perfeitamente legítimas e democráticas. Penso que o único que não tem preocupações desse tipo é Kim Jong-un, o líder bizarro da Coreia do Norte.
Assim, o presidente Joe Biden está a meter-se numa encrenca quando resolve convocar uma cimeira internacional sobre a democracia. A lista dos excluídos dessa reunião vai dar mais que falar do que os temas escolhidos para debate. Para já ficaram de fora Viktor Orban e Recep Tayyip Erdogan.
O link acima abre o meu texto desta semana no Diário de Notícias. Publicada ontem, esta crónica olha para os possíveis movimentos migratórios que a nova situação afegã pode originar, tendo sempre presente a perspectiva europeia e a acção política.
Cito, de seguida, um extracto da minha crónica. É um parágrafo final, que resume uma parte importante da questão.
"Os diferentes estados europeus estão dispostos a acolher quem trabalhou diretamente com as suas forças militares. Mas não têm a intenção de ir mais além. Aos habituais Viktor Orbán e companhia, junta-se agora uma nova vedeta, o Chanceler austríaco Sebastian Kurz. E as redes sociais já estão cheias de teorias catastróficas sobre o impacto que adviria de um aumento da proporção de muçulmanos em terras europeias. Sem esquecer, dizem, os possíveis perigos de atentados terroristas. A realidade é que aqui, na UE, como noutras partes do mundo, as questões de identidade cultural estão cada vez mais no centro da agenda política."
Os líderes da União Europeia reuniram-se hoje por videoconferência. A principal conclusão que tiro da reunião é que eles compreendem que a campanha de vacinação não está a avançar ao ritmo que deveria. Uma das razões é certamente a falta de vacinas. As farmacêuticas ainda não têm capacidade para produzir vacinas em quantidades que correspondam à procura. Mas há outras questões. E não são apenas relativas ao atraso nas encomendas feitas por Bruxelas. Estão relacionadas com a fraca aceitação da vacina produzida por AstraZeneca – os governos criaram confusão nas cabeças dos europeus sobre a eficácia desta vacina –, bem como com questões políticas. Os europeus deveriam encomendar as versões russas e chinesas. É uma decisão de saúde pública. Não o querem fazer, não querem dar o braço a torcer, o que é um erro. A política não deve ser mais importante do que a vida das pessoas. A Hungria está a aplicar a vacina chinesa, à revelia da política europeia em relação ao assunto. Desta vez, tenho de dar razão a Viktor Orbán.
A minha coluna de ontem no Diário de Notícias tinha como destinatários todos aqueles que na União Europeia querem desligar ajuda financeira da prática de um estado de Direito. As principais críticas que fiz diziam respeito aos dirigentes da Polónia, da Hungria e da Eslovénia. Mas nas entrelinhas ia mais longe. O primeiro-ministro português tem sido ambíguo nesta matéria. Quando se trata do consumo interno, não hesita em afirmar que orçamentos e valores democráticos devem ir a par e passo. Nas reuniões em Bruxelas, é muito menos taxativo. Dá mesmo a impressão, às vezes, que está mais próximo da posição defendida por Viktor Orbán, o primeiro-ministro húngaro, do que daqueles que vêem o futuro da Europa como uma comunidade de valores.
O meu texto tinha isso em linha de conta.
E hoje o jornal Público revela que assim parece ser. Num trabalho intitulado “Portugal criticou no Conselho o mecanismo de defesa do Estado de direito” fica a imagem de um governo com duas caras. No segredo das cimeiras, põe-se ao lado dos polacos, húngaros e companhia.Na praça pública, declara que é a favor da posição da Comissão Europeia, que não quer ver os fundos desligados da boa prática democrática.
Eu não teria visitado o Primeiro-Ministro da Hungria, Viktor Orban. Ele representa aquilo que a União Europeia não pode aceitar no seu seio, os ataques à democracia, à liberdade académica, às organizações de cidadãos, às personalidades com raízes judaicas, aos valores da modernidade e da inclusão. E também não afirmaria, com aquele ar de esperto que só engana os tolos e que é saudado pelos oportunistas da mesma família política, que não há qualquer ligação entre a falta de respeito pelos direitos humanos e o acesso aos fundos europeus.
Orban ataca a Europa quando lhe convém, comete transgressões diárias contra os princípios do Estado de direito, mas quer que a massa continue a correr de Bruxelas para Budapeste, aos milhões e sem condicionalismos. Eu dir-lhe-ia que não. Que, na nossa União, a política e a economia estão entrelaçadas. E dar-lhe-ia um conselho, mas de longe, sem o visitar: a democracia e o respeito pela diversidade devem ser vistos como essenciais, no processo de construção da solidariedade europeia.