Esta tarde, numa conversa em directo com a Antena 1, sobre as conversações entre as delegações da Ucrânia e da Rússia, disse que se deve ser optimista mas com muita prudência. Já havia dito o mesmo ontem à noite, na SIC Notícias, depois de ter recebido indicações de que poderia haver algum progresso em Istambul.
O que parece possível, como acordo, tem muitas condições subjacentes. O cessar-fogo, que deve ser a primeira etapa de um verdadeiro processo negocial, ainda está longe de acontecer. E as palavras têm significados diferentes, quando ouvidas em Moscovo ou em Kyiv.
Também referi que a Rússia está sob pressão para que avance para um compromisso. São cinco os factores que contribuem para essa pressão: as operações no terreno; as sanções; a opinião pública internacional; a Assembleia geral da ONU; e a China.
Esta questão pode ser um tema de um texto mais longo, para publicação ou debate na comunicação social.
É altura de coordenar a pressão americana, europeia e ucraniana no que respeita à China. A consulta que ontem teve lugar entre os presidentes americano e chinês não terá dado nenhum resultado visível. Mas mesmo assim, foi importante ter os dois líderes em ligação, durante quase duas horas. Quando os líderes das duas super-potências acham que vale a pena estar em contacto durante um par de horas, também nós devemos achar. E insistir para que os contactos continuem nos próximos dias. Incluindo com a parte europeia. Seria igualmente importante conseguir-se uma videoconferência entre Zelensky e Xi.
Link para o meu texto de hoje no Diário de Notícias.
O texto termina assim: "Dito isto, queria que ficasse claro que não tenho muita fé na possibilidade de uma mediação. Preferiria que se apostasse num golpe palaciano. Aí, sim, poderá estar a solução. Mas, oficialmente há que insistir na via diplomática. A encruzilhada em que estamos é bem clara: ou há diplomacia ou haverá uma forte possibilidade de confrontação em larga escala, sofrimento e caos. Cabe a cada um responsabilizar-se pela sua escolha e no fim, pagar a conta, a começar por Vladimir Putin"
Joe Biden acaba de falar em público, novamente sobre a Ucrânia. Segui atentamente a sua intervenção. Deixou claro várias coisas. Destaco três: que Vladimir Putin já tomou a decisão de invadir a Ucrânia; que Kiev será atacada; que a diplomacia continua a ser possível enquanto não houver nenhuma invasão.
As deslocações de Emmanuel Macron a Moscovo, Kiev e Berlim serviram, acima de tudo, para manter a opção diplomática aberta. Essa é a única conclusão que se pode tirar, para já.
Mas também serviu para colocar a Europa à mesa das negociações. Vladimir Putin e Joe Biden têm mostrado querer tratar do problema entre eles, como se os europeus não contassem. Macron e os dirigentes da Ucrânia, Alemanha e Polónia disseram-lhes agora que também fazem parte do jogo, seja ele de xadrez ou de poker. Essa é uma mensagem forte. Convém continuar a repeti-la.
A intenção de organizar brevemente uma cimeira com os quatro líderes do processo chamado de Normandia vai no mesmo sentido, ou seja, permitirá à França, à Alemanha e à Ucrânia terem um encontro frente a frente com Vladimir Putin. É fundamental que essa cimeira tenha lugar.
Em Washington, nota-se que existem reservas e dúvidas no que respeita às iniciativas tomadas por Macron. A posição americana está muito influenciada por analistas que lêem nas movimentações militares russas uma probabilidade muito alta de um conflito armado. Essa é, neste momento, a grande diferença de apreciação sobre o que poderá acontecer nas próximas semanas. Os americanos apostam num cenário de invasão, enquanto os europeus acreditam que vale a pena investir na diplomacia