Estão todos a caminho da China. Por duas razões: por se tratar de um grande mercado e por se pensar que a China poderá encontrar uma solução para a agressão russa contra a Ucrânia. É, de facto, um mercado enorme e cada vez maior, à medida que o poder de compra da sua imensa população continuar a aumentar. A sua dimensão populacional e a disciplina laboral são dois factores determinantes que farão da China um pólo importantíssimo nas relações internacionais. Mas acreditar na intervenção da China na resolução do conflito criado pela Federação Russa parece-me uma ilusão. A Rússia não tem a intenção de sair dos territórios que ocupou ilegalmente. E a China não irá, de modo algum, conseguir convencer a Rússia a fazê-lo. Nem irá mesmo tentar. Por isso, apostar na China como um mediador é, tal como as coisas estão neste momento, tempo perdido.
Xi Jinping ainda não teve tempo para telefonar a Volodymyr Zelensky. Mas o seu porta-voz mostrou que a decisão de Vladimir Putin de deslocar armamento nuclear para a Bielorrússia não foi bem recebida em Beijing. Isso e as informações que vêm de ambos os lados – a Rússia e a Ucrânia estão a preparar-se para combater e não para negociar – devem ter levado Xi a concluir que não há espaço político para uma iniciativa negocial. Mas tal não deve ser utilizado como uma desculpa para não falar com o presidente da Ucrânia. Antes pelo contrário. Depois de ter estado em Moscovo, Xi tem a obrigação de falar com Zelensky. A não ser que o alinhamento com Putin seja ainda mais intenso do que parece. A ser assim, estaríamos perante um erro político enorme, do lado chinês.
Este é o link para o meu texto de hoje na edição em papel e digital do Diário de Notícias. E fiquei muito honrado ao ver que o Leonídio Paulo Ferreira, o número dois do jornal, cita o meu texto no seu editorial.
A União Europeia e o Reino Unido receberam a visita do Presidente Zelensky e prometeram mais ajuda. É fundamental que o façam e sem demoras. A questão dos aviões de combate é particularmente sensível. A Rússia vê essa assistência com maus olhos. Mas terá de acontecer para que a defesa da Ucrânia possa ser assegurada. Moscovo prepara-se para lançar uma nova ofensiva de grande envergadura. Isso sim, deve ser visto com muita preocupação. E só há uma maneira de responder, sem que nenhum país da NATO entre directamente no conflito: dar meios de defesa à Ucrânia. E os mais eficazes, perante a nova onda de agressão que se espera, são os caças de última geração. Se isso não agradar aos russos, terão que se habituar ao desagrado. Não creio que se atrevam a tomar um qualquer tipo de represália militar contra um dos países da NATO. Será mais uma linha vermelha que deixará de o ser. O importante é que a assistência à Ucrânia mantenha a carácter de defesa. Mas reconheço que a questão da Crimeia é especialmente sensível.
Este é o link para a minha crónica de hoje no Diário de Notícias.
Cito umas linhas de seguida.
"Quem tem uma visão clara, sabe que a resolução da crise actual passa por dois marcos: a restauração das fronteiras da Ucrânia, de acordo com a ordem internacional, e o restabelecimento das relações de cooperação com o povo russo. O Ocidente não quer nem derrotar nem humilhar a Rússia. O que está em jogo é punir os criminosos de guerra e ajudar aquele grande país a construir a sua forma de democracia, que tenha em conta a multiplicidade étnica do seu imenso território e as liberdades fundamentais dos cidadãos."
Este é o link para o meu texto de hoje no Diário de Notícias. Insisto em dois pontos, quando olho para 2023: pensar numa nova maneira de fazer a gestão da paz e obrigar a Rússia a assumir as suas responsabilidades; lembrar que temos de trabalhar diplomaticamente com a China, com muita habilidade e tendo bem presente os interesses de cada parte.
Cito umas frases do texto de hoje:
"Mais, o prolongamento da campanha russa traz consigo o risco, acidental ou deliberado, de pegar fogo à Europa Ocidental e mais além. Razão muito forte pela qual este tem de ser o ano de uma iniciativa de paz, liderada pelos europeus e em colaboração com os EUA e a China, entre outros.
Sim, com a China, mas não com os BRICS, que são uma estrutura cheia de problemas internos -- Brasil, África do Sul -- e de rivalidades entre a Índia e a China. E o relacionamento com a China não prejudica necessariamente a aliança entre os europeus e os norte-americanos, nem contradiz o apoio que temos o dever de continuar a fornecer à Ucrânia. A complexidade do conflito exige uma maneira criativa de intervir na sua solução."
No Dia de Natal, na nossa cultura, fala-se e deseja-se paz. É isso que esperamos que aconteça na Ucrânia, tão brevemente quanto possível.
Também se deve falar de justiça. Este conceito tem várias dimensões. No caso da guerra, significa que não se pode de modo algum tratar o agressor em pé de igualdade com a agredido. Um agressor é um criminoso. É assim que deve ser visto e tratado. Não se oferecem garantias a um criminoso, para além das previstas num julgamento legítimo e processualmente correcto. Mas o criminoso, uma vez reconhecido culpado, deve ser punido.
Um Chefe de Estado não tem imunidade quando se trata de crimes de guerra, de crimes contra a humanidade, de actos de genocídio. Quando se negociou com Adolf Hitler em 1938, abriu-se a porta a uma nova onda de violência. Essa foi uma das lições aprendidas há oito décadas. Seria um erro esquecê-la.
A visita do Presidente Zelensky a Washington foi um grande sucesso político. O presidente soube cativar a classe política e a opinião pública americanas e mostrar que é um líder corajoso e sincero. Não há dúvidas que ficará na história destes tempos e que será mencionado como uma referência.
O plano de paz que propôs, que é uma adaptação ligeiramente modificada do que apresentara na última reunião do G20, tem toda a legitimidade, mas não tem qualquer hipótese de servir de base para uma negociação com os russos. A impressão que fica é clara: a guerra irá continuar. Infelizmente. Nem a pressão chinesa sobre o Kremlin vai dar resultado.