O Presidente da Síria, Bashar al-Assad, chegou hoje à China para uma visita de vários dias. Desde o início da guerra civil e dos massacres que tem levado a cabo desde 2011, esta é a primeira visita de al-Assad ao estrangeiro, com excepção de duas ou três deslocações rápidas à Rússia.
O significado político desta deslocação é muito importante. A China convidou um protegido de Vladimir Putin que é igualmente um criminoso de guerra, aos olhos do Ocidente. Ao fazê-lo quer mostrar a sua independência total perante o Ocidente. Isto, apesar de continuar a insistir na necessidade de reforçar as relações comerciais com a Europa e os Estados Unidos.
É um jogo de ambiguidades. Permite à China jogar em dois terrenos ao mesmo tempo e tirar o maior proveito possível dessa duplicidade. E confundir o adversário.
Este é o link para a minha crónica de hoje, publicada no Diário de Notícias. A não comparência do líder chinês parece mostrar que já entrámos na nova ordem política internacional.
Cito de seguida umas linhas do meu texto:
"Os dirigentes indianos varrem para debaixo do tapete essa ausência. Ao reagir assim e ao sublinhar que o primeiro-ministro chinês Li Qiang estará presente, estão a proceder da maneira que é diplomaticamente apropriada. Mas isso não esconde certas evidências fundamentais. As disputas fronteiriças e a concorrência geoestratégica entre ambos os países. As críticas de Beijing à aproximação cada vez maior entre Nova Delhi e Washington. E o facto de não haver acordo sobre o texto do comunicado final da reunião, no que respeita à agressão injustificada e sem-fim da Rússia contra a Ucrânia. A China não quer entrar nessa discussão, apesar de pretender ser o líder da nova ordem internacional. Ora, liderar é ser capaz de mostrar o caminho do futuro e não cair na prática que tem sido tão habitual na cena internacional, a dos dois pesos e das duas medidas."
Este é o link para o meu texto de hoje no Diário de Notícias.
A mensagem principal é simples: deve-se fazer pressão sobre os EUA e a China para que procurem desempenhar um papel construtivo na ONU e na cena internacional. É isso que se espera das duas superpotências.
Cito umas palavras do meu texto:
"Palavras leva-as o vento, mas quando se está à frente de um Estado exige-se circunspeção. Agora, é preciso algo de concreto.
Face ao contexto internacional e ao facto de ambos serem membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, a China e os EUA poderiam mostrar a todos nós que ainda pode haver esperança no futuro".
Singapura voltou a organizar, este fim de semana, a conferência sobre a segurança na Ásia e no mundo, que é conhecida pelo nome de Shangri-la Dialogue. Esta é uma das conferências mais importantes sobre o tema da segurança internacional, tendo em conta as várias zonas de tensão existentes naquela parte do planeta: o mar do Sul da China, Taiwan e o seu Estreito, as diferentes rivalidades entre a China, os Estados Unidos, o Japão e também a Austrália, e ainda a questão da Coreia do Norte. Tudo isto se enquadra numa competição extrema entre as duas superpotências que são os Estados Unidos e a China.
Um aspecto marcante da conferência que hoje termina foi o facto do ministro da Defesa da China ter recusado uma reunião a dois com o seu homólogo americano. O ministro é o General Li Shangfu e ocupa o cargo desde março, depois da consolidação do poder de Xi Jinping. O General Li tem estado na lista de sanções dos Estados Unidos desde 2018 devido à compra de armamento russo cuja comercialização tinha sido considerada pelos americanos como sancionável. Por estar na lista, o general chinês achou que não devia encontrar-se com a delegação americana.
Ao mesmo tempo que isto acontecia em Singapura, chegava a Beijing uma delegação de alto nível do Departamento de Estado americano, para consultas. Ou seja, para além das aparências, os contactos entre ambas as partes existem. O próprio director da CIA esteve há dias na China, também para consultas.
É uma situação complexa. Mas a verdade, deve ser vista com muita clareza. Existe de facto a possibilidade de uma confrontação entre estas duas partes. Nenhuma está disposta a ceder terreno geopolítico. Por isso, o confronto é algo encarado como possível, quer em Washington quer em Beijing. A hipótese mais provável é que resulte de um incidente marítimo ou aéreo que envolva ambas as forças armadas. A partir daí, poderemos entrar numa situação incontrolável e absolutamente destruidora. Esse é um dos pontos mais importantes da agenda internacional, que deve ser tratado de modo contínuo e prioritário.
O Presidente Lula da Silva está entre nós em visita oficial. As declarações que hoje fez na cerimónia de boas-vindas foram positivas. Fica-nos, no entanto, a impressão de que Presidente brasileiro é inconsistente. Quando visita a China diz uma coisa, depois em Portugal, sobre o mesmo tema da agressão russa contra a Ucrânia, diz algo completamente diferente. É um bocado ao gosto do cliente. Para nós, o que interessa é o dito em Lisboa. Esta é uma maneira de encarar a personalidade de Lula da Silva de modo positivo. Ganha-se mais com essa interpretação positiva do que com uma crítica negativa da sua política em relação à Rússia e à China. Acreditemos que o Presidente procura de facto encontrar uma via para a paz. O Brasil não tem um peso internacional suficiente para desempenhar um papel de liderança na resolução da crise criada pela Rússia. Mas é importante que apareça como um país do chamado Sul Global – um eufemismo que está na moda – preocupado com as questões da paz e pronto para intervir na procura de uma solução para uma guerra na parte mais desenvolvida do mundo.
Estão todos a caminho da China. Por duas razões: por se tratar de um grande mercado e por se pensar que a China poderá encontrar uma solução para a agressão russa contra a Ucrânia. É, de facto, um mercado enorme e cada vez maior, à medida que o poder de compra da sua imensa população continuar a aumentar. A sua dimensão populacional e a disciplina laboral são dois factores determinantes que farão da China um pólo importantíssimo nas relações internacionais. Mas acreditar na intervenção da China na resolução do conflito criado pela Federação Russa parece-me uma ilusão. A Rússia não tem a intenção de sair dos territórios que ocupou ilegalmente. E a China não irá, de modo algum, conseguir convencer a Rússia a fazê-lo. Nem irá mesmo tentar. Por isso, apostar na China como um mediador é, tal como as coisas estão neste momento, tempo perdido.
Link para o texto que hoje publico no Diário de Notícias.
Cito de seguida umas linhas desse texto.
"A presidência do Conselho de Segurança roda entre os seus quinze membros. Seguindo esta regra, abril calhou à Federação Russa. Muita gente ficou em estado de choque ao saber que um país agressor iria presidir durante um mês aos trabalhos do principal órgão político da ONU, que é responsável pela paz, a segurança internacional e o respeito pelos princípios da Carta das Nações Unidas. Assim funciona o sistema. O fundamental é saber que agenda propõem para abril e que aproveitamento da presidência será tentado.
A maioria das reuniões abordarão os temas correntes, à volta da implementação das missões de paz da ONU. A meu ver, apenas dois temas serão novos, introduzidos com o objectivo de defender posições caras à Rússia."
Lukashenko, a marionette de Putin. Risco nuclear. Cessar fogo?
Outras marionetas: Medvedev e Orban: a Europa está indirectamente em Guerra com a Rússia
As ofensivas da primavera: UKR máximo de 160 tanques, mas só no fim do ano, quando precisariam de mais de 300
Melitopol?
Von der Leyen:
Não quer um divórcio com a China, apenas uma relação com menos riscos, menos dimensões estratégicas : microelectrónica, robótica, IA, biotecnologia, computação quântica, componentes de uso duplo
Cerca de 2 mil milhões euros/dia em trocas comerciais
Pedro Sánchez: next NATO SG? Ou von der Leyen? Ben Wallace? Pedro Sánchez diz a Xi: fale com Zelensky.
Multipolar, regionalizado e global. Rússia, China, Índia.
Abril e a Rússia na presidência do Conselho De Segurança