Parece estar em curso uma onda de purgas entre as altas patentes militares russas. Isto é mau sinal. A camaradagem militar poderá falar mais alto que a lealdade política.
Por outro lado, não se sabe onde está Yevgeny Prigozhin. Existem todo o tipo de boatos sobre o seu destino.
A guerra entrou na fase mais perigosa para os seus responsáveis. É a fase da confusão, das dúvidas, das acusações no seio da classe dirigente. É isso que é preciso seguir com muita atenção.
A comunicação de hoje de Yevgeny Prigozhin durou 11 minutos. Foi longa, para se tentar justificar e fazer esquecer as declarações de sexta-feira à noite, quando iniciou a rebelião contra Vladimir Putin. Agora disse que não queria derrubar o presidente. Na sexta-feira dissera que a guerra contra a Ucrânia não tinha justificação, era apenas uma maneira de enriquecer as cliques que giram à volta de Putin.
Vladimir Putin também discursou esta noite. Seis minutos apenas, para mostrar que continua à frente da máquina e que não irá perdoar os autores do motim. Tinha de dizer isso. Um ditador não pode perdoar uma tentativa de golpe de Estado.
A saída de cena de Yevgeny Prigozhin poderá fazer diminuir a presença e a influência da Rússia no Mali, na República Centro-Africana e noutros cantos esquecidos de África
Este é o link para a minha crónica de hoje no Diário de Notícias. Estamos, na verdade, perante um dirigente que pode perder as estribeiras.
Cito umas linhas: "Que esperar de um adversário assim, mais ainda quando o próprio Putin começa a falar do recurso a armas nucleares, como o fez esta semana? A menção do nuclear deve ser vista como um sinal de desespero. Será possível entabular um processo de paz com dirigentes deste calibre, caso a ofensiva ucraniana consiga forçá-los a sentar-se à mesa das negociações? E como tratar com Vladimir Putin, que está numa situação jurídica de incriminado pelo Tribunal Penal Internacional, uma instituição multilateral que deve merecer um respeito sem ambiguidades? A cimeira da NATO, dentro de semanas, em Vilnius, não pode ignorar o perigo que paira sobre a Europa e mais além. Conseguirá responder ao nível de risco em que nos encontramos?"