Sem comparar Mugabe e Trump
https://www.dn.pt/edicao-do-dia/08-jan-2021/mugabe-e-trump-filhos-do-mesmo-monstro-13204912.html
Link acima leva o leitor para o meu texto de hoje, desta semana, no Diário de Notícias.
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Link acima leva o leitor para o meu texto de hoje, desta semana, no Diário de Notícias.
Faleceu hoje Robert Mugabe. Trabalhei durante quatro anos, entre 2000 e 2004, com ele e o seu governo. Foi um período de transformação acelerada, um resvalar a toda a velocidade para a fossa da tragédia. Enquanto representante da ONU no Zimbabwe, a minha tarefa era tentar evitar o aprofundamento da crise nacional, que Robert Mugabe pusera em marcha em 2000. Por isso, encontrava-me regularmente com ele. As reuniões tinham sempre três características centrais: não havia acordo entre nós, o Presidente fazia uma tiradas inflamadas contra Tony Blair e o seu governo, e terminávamos com uma promessa cordial de voltar ao assunto em causa. Esse assunto era a chamada “reforma agrária”.
Muitas dessas discussões tiveram lugar à hora do almoço. Uma refeição simples. Mugabe comia duas pequenas sandes de pão branco, com faca e garfo, bebia duas ou três chávenas de chá, e ficava aviado. Fazia-o lentamente, mais atento ao que poderia estar, como mensagem, para além das frases que eu lhe ia dizendo. A verdade é que falava muito mas também sabia escutar, sempre a tentar perceber se havia alguma intenção escondida por detrás das palavras do seu interlocutor.
E assim foi até ao dia da minha partida, no final da missão. Na véspera, fez questão em voltar rapidamente a Harare, para uma última reunião e para me desejar boa sorte, na África Ocidental, uma região sobre a qual Mugabe tinha uma posição ambígua.
Entretanto, o tempo e a idade foram avançando. A tragédia que ele desencadeara em 2000 continuou, para a grande infelicidade do povo do Zimbabwe.
Ele, passou agora à história. Muitos lembrar-se-ão de Robert Mugabe como um dos pilares da libertação de África. Outros, trarão para a frente a crise nacional profunda, o colapso de uma economia próspera, as violações dos direitos humanos, os massacres dos anos 80.
Eu trago apenas um breve testemunho. Para dizer que gostei de o ter conhecido, apesar de tudo.
Robert Mugabe foi hoje eleito presidente da União Africana (UA). Trata-se da rotação habitual, à cabeça da UA, um mandato por um ano.
Só que Mugabe não é um caso rotineiro. Para além da imagem que tem, fora e dentro de África, a velha raposa que ele é vai aproveitar ao máximo as oportunidades que a chefia honorífica da UA proporciona, para fazer das suas. Como sempre, irá dar que falar. Infelizmente, ao fazê-lo, não estará a contribuir para o prestígio da União Africana. Contribuirá, isso sim, como de costume, para aumentar a distância entre os líderes africanos e a opinião pública ocidental.
O meu texto na Visão que saiu hoje trata das recentes eleições no Zimbabwe. Está disponível através do seguinte link:
Boa leitura.
Dei a seguinte entrevista à UE, para circulação entre os funcionários. Trata-se de partilhar a minha experiência na ONU.
Continuo a minha descoberta de um lado e do outro da fronteira. Como também continua, em Portugal, a saga triste da acusação pública, a procuradoria da república, que tem elementos que estão mais preocupados com questões de protagonismo e de imagem nos media do que com a isenção da justiça. São procuradores mais políticos do que objectivos. Disponíveis para fazer favores a quem manda.
Estão no sítio errado. Deveriam ser obrigados a sair da justiça e bater-se na frente partidária. A agir abertamente nos partidos de quem são tão amigos.
E os senhores do governo continuam a fingir que não vêem. A manter uma serenidade de estátua de pedra de granito perante uma problemática que diz respeito a uma função essencial do exercício do poder do Estado.
Convém-lhes. É que muitos anos de poder da mesma matiz deram para fazer entender aos senhores da acusação pública que é conveniente ser dócil para com o poder estabelecido. Faz bem às carreiras e à tranquilidade das suas vidas.
No Zimbabwe e no Chade, por exemplo, também é assim.
A Visão de hoje faz uma apanhado da primeira década do Século XXI.
Vale a pena ver a revista. Sem ser um sumário dos últimos dez anos, os primeiros desta nova era, salienta alguns aspectos importantes.
Fiquei honrado quando a Visão me pediu um reflexão sobre o período passado. Queriam que o meu testemunho aparecesse nesta edição de agora.
Aí está. Pode ser lido no sítio:
http://aeiou.visao.pt/emergencias-humanitarias-e-aceleracoes-tecnologicas=f541099
Mais do que um testemunho do passado, o texto que escrevi procura abrir algumas pistas para o futuro.
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