Tudo o que é da minha cor é bom
O meu amigo Zulmiro – que raio de nome fui dar a esse meu amigo – nem analisa nem reflecte. Reage, toma posição, sempre a partir do mesmo prisma ideológico. Por isso, é previsível. Quando há uma polémica, o Zulmiro opina de imediato segundo o prisma que o anima. E diz, por isso, que é politicamente coerente, sempre do lado dos bons, que a política para ele é uma questão de bons e de maus. Acha, por outro lado, que quem perde tempo a ver as diferentes dimensões do problema é um cata-vento, um meias-tintas, um fulano que não se define a preto e branco.
Conheço toda uma série de Zulmiros. Uns, pessoalmente, outros porque escrevem nos jornais, falam nas rádios ou, ainda, por se mostrarem nas televisões.
E, ao que parece, ser Zulmiro é o que está a dar. Por exemplo, o Zulmiro desta tarde subiu na carreira por ser coerente. Apoiou sempre os da mesma linha e fê-lo com voz alta e de modo visível. Na cabeça dele, nunca existiram interrogações. Se vinha dos da sua cor, estava correcto, era para dizer que sim. Se a origem da ideia estivesse na cor adversa, batia a sério na proposta, sem papas na língua, sem medo. E assim foi ganhando galões. Com todo o mérito de quem não tem hesitações.
Quando lhe disse que tinha uma certa admiração por ele, não viu qualquer ironia na declaração e ficou feliz. Os Zulmiros gostam de elogios.