Viagens e a nossa maneira de ser
A frequência das minhas viagens – combinada com a idade, claro – tem um impacto sobre a regularidade e a inspiração da minha escrita. Mas também é verdade que as viagens são uma fonte de inspiração. Têm o condão, além disso, de nos permitir ter uma visão mais objectiva da nossa realidade nacional.
Ontem depois do jantar servi de guia a quem estava comigo em Stavanger, pessoa pública vinda de Portugal, alguém muito conhecido no nosso país. Demos uma volta a pé por um dos bairros residenciais dessa cidade norueguesa. O meu acompanhante teve a oportunidade de ver a maneira absolutamente impecável de manter as casas, os jardins privados, as ruas, os veículos e os parques municipais. E de notar que ali ninguém buzina, ninguém conduz à maluca e que os jovens não fazem escabeche nos lugares públicos.
Não sei se, depois disso, essa personalidade irá cortar a erva do seu jardim, quando voltar a Portugal. Falou-me várias vezes no descuido em que o jardim se encontra. Disse-o, no entanto, com um certo grau de fatalismo, como se a sina dos portugueses fosse a de viver numa bandalheira colectiva e num desleixo individual.